Vila Paciência: estrutura ganhou um morador há três meses Foto: Marcio Alves / Extra
Há três meses, expulso por milicianos do bairro onde vivia após furtar uma bicicleta, o morador de rua X., de 34 anos, decidiu passar a noite na estação do BRT Vila Paciência, em Santa Cruz.
Como não foi abordado por ninguém, decidiu ficar mais uns dias ali. Escolheu um cantinho para chamar de seu e, aos poucos, equipou o local com colchão, sacolas e até vassoura.
Às vezes, sai para catar latas — “só quando preciso arrumar dinheiro para comer e comprar droga”, explica ele. Não fosse isso, permaneceria o dia inteiro tomando conta da nova morada, que já não pensa em deixar para trás.
Assim como a Vila Paciência, desativada desde 2014, quando foi incendiada durante um protesto, a estação Cesarão 3 também serve de abrigo para usuários de drogas, segundo relatos de moradores da região.
Assim como a Vila Paciência, desativada desde 2014, quando foi incendiada durante um protesto, a estação Cesarão 3 também serve de abrigo para usuários de drogas, segundo relatos de moradores da região.
Ontem, havia quatro pessoas deitadas no chão da estrutura, abandonada desde março, após ser depredada e ter equipamentos furtados.
Ambas ficam ao longo da Avenida Cesário de Melo, que liga Campo Grande a Santa Cruz. Diante da recente ameaça do consórcio BRT de desativar as 22 estações do corredor Transoeste, empresários e a população da região passaram a temer a chegada de mais usuários de drogas.
Cesarão 3, já fechada, abriga usuário de drogas Foto: Márcio Alves / Extra
— A gente vai perder as estações e ganhar 22 abrigos para usuários de drogas. O que era uma promessa para melhorar nossa vida agora só vai trazer mais dor de cabeça — desabafa Hilton Pereira, de 53 anos, dono de uma barraca de biscoitos perto da Vila Paciência.
Nos últimos três meses, X. diz não ter sido abordado por qualquer agente público. Sem vidros, cabos e equipamentos eletrônicos, a estação Vila Paciência ainda é alvo de vândalos e ladrões, segundo o atual “inquilino”.
— Já tinham vindo roubar as peças de alumínio. Na semana passada, chegou um aqui para roubar as telhas. De vez em quando eles vêm. Nessas horas, eu saio logo — diz.
Entre os passageiros o maior medo é perder um serviço que significou economia de tempo e dinheiro para o usuário. Com o BRT, a estudante de Psicologia Liandi de Paula, de 36 anos, leva pouco mais de uma hora para ir de casa, em Guaratiba, até a Barra. Antes do sistema, ela levada mais de duras horas.
Estação Campo Grande está ameaçada de parar. Paralisação do serviço atingiria 30 mil Foto: Márcio Alves / Extra
— Vai ser muito ruim se acabar, porque vou levar mais tempo e pegar mais ônibus. Terei que pagar pelo menos mais uma passagem — diz.
A dona de casa Suely Rocha, de 53 anos, moradora de Santa Cruz, usa uma linha alimentadora até a estação Cesarão e, em seguida, pega o BRT até Campo Grande. Com a iminente suspensão dos serviços, ela não sabe se continuará contando com as linhas alimentadoras.
Linha alimentadora lotada e com porta aberta Foto: Márcio Alves / Extra
— Ninguém explica se as alimentadoras vão continuar. Uns dizem que vão passar a cumprir todo o trajeto do BRT, outros dizem que vai voltar tudo a ser como antes. Esse corredorzão vai ficar esquecido? — questiona.
Ontem, o Consórcio BRT reafirmou a intenção de desativar as 22 estações, mas não deu data. E a prefeitura reafirmou que os consórcios responsáveis “sofrerão as penalidades administrativas previstas”: multa e notificação, para restabelecer o serviço.
Sobre a invasão de moradores de rua e usuários de drogas a estações, a Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos afirma que “as abordagens de acolhimento têm sido feitas, semanalmente, pelas equipes do Centro de Referência Especializado da Assistência Social nas estações fechadas do BRT da Zona Oeste do Rio”.
Em nota, a pasta informou que, especificamente nos casos de Vila Paciência e Cesarão 3, os técnicos informaram que se trata de usuários de drogas que têm famílias e residências.
“Eles são abordados e se recusam a ir para o abrigo de Paciência. Mesmo quando retirados de lá pelas famílias, voltam para esses locais por causa do acesso aos pontos de venda de drogas.
Esclarecemos que a Secretaria municipal de Assistência Social e Direitos Humanos faz o acolhimento, mas o tratamento de dependentes químicos é realizado pelas unidades da Secretaria municipal de Saúde”, completou.
Fonte: Extra
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