De cadeira de rodas, empurrada por um assessor, Wagner Montes (PRB) entra em seu gabinete, no terceiro andar do Palácio Tiradentes. A voz, ainda fraca, se soma à respiração lenta e relembra os problemas de saúde que o deixaram 40 dias no CTI há oito meses.
Antes do início da entrevista, o deputado e apresentador de TV pede um maço de cigarros e acende um deles ali mesmo, na sala fechada. Após quatro tragos, a bituca é despejada, ao lado de outras três, no cinzeiro sobre a mesa.
— Meu avô enfileirava um Caporal Amarelinho atrás do outro, aquele que chamavam de arrebenta-peito, e morreu com 102 anos —galhofa ele, sobre o hábito de fumar apesar do estado debilitado.
— Meu avô enfileirava um Caporal Amarelinho atrás do outro, aquele que chamavam de arrebenta-peito, e morreu com 102 anos —galhofa ele, sobre o hábito de fumar apesar do estado debilitado.
Wagner Montes substituiu Jorge Picciani, preso, na presidência da Alerj Foto: Domingos Peixoto/04.10.2016
Em meio à recuperação, que inclui três sessões semanais de fisioterapia — Wagner também teve a perna direita amputada abaixo do joelho em 1981, após um acidente de triciclo —, o parlamentar, vice-presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), viu o comandante máximo da Casa, Jorge Picciani (PMDB), ir parar na prisão com dois colegas de partido.
Para comandar a polêmica votação que decidiu pela soltura do trio, obrigado pela Justiça a voltar para a cadeia em seguida, Wagner precisou encurtar uma viagem com fins de reabilitação ao Paraguai e suspender uma licença médica.
Já no plenário, graças à falta de acessibilidade, foi carregado no colo até a cadeira do presidente, que passou a ocupar desde então.
Deputado é carregado no plenário devido à saude frágil Foto: Alexandre Cassiano/17.11.2017
Embora reconheça que a saúde fragilizada afeta o trabalho como mandatário interino, Wagner Montes promete dar foco, até o recesso parlamentar, à votação acerca das contas do governo do estado em 2017 e à criação de um Fundo de Segurança para o Rio.
Diante da pergunta sobre a possibilidade de submeter ao crivo da Alerj um dos pedidos de impeachment contra o governador Luiz Fernando Pezão, o político, talvez na primeira ocasião ao longo da conversa, se sobrepõe claramente ao comunicador boa-praça e brincalhão.
— Vale a pena, a seis meses da eleição, colocar mandato tampão? Não farei graça com ninguém, mas estou com a população — desconversa.
— Vale a pena, a seis meses da eleição, colocar mandato tampão? Não farei graça com ninguém, mas estou com a população — desconversa.
Wagner Montes está na televisão há quatro décadas Foto: Michel Filho/21.09.2007
Troca de partido teria sido ordem de emissora
Nem Wagner Montes nega que as quatro décadas como repórter e apresentador impulsionaram a carreira fora da telinha.
Não por acaso, a faceta política e a de celebridade volta e meia se fundem. Mais de um entrevistado para essa reportagem relatou ao EXTRA uma cena que ocorre com frequência nos corredores da Alerj: o deputado exibe o contracheque da Record, emissora da qual é contratado há quase 15 anos, e garante que, com o que ganha, não precisa se vender “feito uns e outros”.
Reforçada regularmente pelas votações isoladas dentro da bancada do PRB, a alardeada independência, entretanto, já sofreu alguns arranhões. Carlos Lupi, presidente do PDT, sigla pela qual Wagner foi eleito em 2006, relata um diálogo que teve com o amigo pouco antes do pleito seguinte:
— Ele falou: “Ou troco de partido, ou perco meu programa”. E eu entendi, claro.
Especulava-se, à época, que a Record teria imposto uma filiação ao PRB, ligado à Igreja Universal, o que só aconteceu ano passado, após passagem pelo PSD.
Reforçada regularmente pelas votações isoladas dentro da bancada do PRB, a alardeada independência, entretanto, já sofreu alguns arranhões. Carlos Lupi, presidente do PDT, sigla pela qual Wagner foi eleito em 2006, relata um diálogo que teve com o amigo pouco antes do pleito seguinte:
— Ele falou: “Ou troco de partido, ou perco meu programa”. E eu entendi, claro.
Especulava-se, à época, que a Record teria imposto uma filiação ao PRB, ligado à Igreja Universal, o que só aconteceu ano passado, após passagem pelo PSD.
O deputado nega coações por parte da emissora e garante que a ida para o PRB às vésperas da eleição municipal, com Marcelo Crivella candidato a prefeito, foi “apenas coincidência”.
Wagner Montes em carreata com Romário e Crivella Foto: Márcia Foletto/01.10.2016
Biografia omite estreia como parlamentar
Ao contrário do que diz a biografia do parlamentar no site da Alerj, a primeira experiência do apresentador como candidato não se deu em 2006, quando foi o terceiro deputado estadual mais votado — desempenho que melhoraria em 2010, com recordes nas urnas, e se manteria quatro anos depois.
Em 1990, Wagner disputou o mesmo cargo pelo PTB e foi escolhido por 11.041 eleitores, cerca de 2% de sua votação 20 anos mais tarde.
Wagner com o bicheiro Anísio Abrahão David, no carnaval de 1988 Foto: Carlos Ivan/15.02.1988
Quarto suplente numa coligação que tinha ainda o PFL (hoje DEM), Wagner Montes assumiu a vaga na Alerj no meio da legislatura, e por ela passou sem grande destaque.
Na reta final do mandato, contudo, o nome do parlamentar foi citado numa lista de doações feitas pelo bicheiro Castor de Andrade, tornando-o parte de um escândalo que abalou a política fluminense — ele garante não ter recebido nada do contraventor. A trajetória como deputado só seria retomada dali a 12 anos.
Wagner Montes com o amigo Marcelo Freixo (PSOL) Foto: Domingos Peixoto/02.10.2016
A nova chegada à Assembleia do apresentador, marcado pelo tom policialesco e belicoso na TV, gerou apreensão em Marcelo Freixo (PSOL), que estreava na Casa.
Os dois não só tornaram-se próximos nas votações como construíram uma inesperada relação de afeto. É comum ouvir Wagner Montes contar o que aprendeu com o colega sobre direitos humanos e se gabar de ter sido o único deputado fora do PSOL convidado, em 2010, para o casamento do socialista.
— Gosto muito do Wagner. Ele está aí, com a saúde debilitada, e mesmo assim é mais assíduo do que muitos dos nossos pares — frisa Freixo.
— Gosto muito do Wagner. Ele está aí, com a saúde debilitada, e mesmo assim é mais assíduo do que muitos dos nossos pares — frisa Freixo.
Com informações do Jornal Extra
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