De bico a emprego sério, motoristas de apps de transporte ganham até R$ 5 mil mensais
Ex-bancário, Anderson Brandao agora é motorista do aplicativo 99 e o utiliza como única fonte de renda Foto: Emily Almeida
Bruno Dutra e Marcela Sorosini
Presente em mais de cem cidades em todo o Brasil e, no Rio, desde 2014, quando chegou junto com um dos eventos mais esperados — a Copa do Mundo —, a Uber, além de outros aplicativos de transporte, como a 99 e Cabify, vivem momento de expansão e presenciam a mudança de perfil de seus motoristas parceiros.
Antes, no auge da crise econômica no Rio, dirigir por um destes aplicativos era a saída para conseguir uma renda diante do desemprego, ou somente para complemento de salário. Hoje, com a expansão dessas plataformas de mobilidade urbana, muitos fazem do volante a única fonte de renda.
O ex-bancário Anderson Tavares Brandão, de 34 anos, é exemplo de como o perfil dos condutores tem mudado. Há dois anos, quando perdeu o emprego numa instituição financeira, viu no serviço de transporte de passageiros a oportunidade de ter uma renda. Com o tempo, percebeu que seria possível fazer da atividade seu único trabalho. Hoje, nem pensa em voltar para a antiga função.
— Já cheguei a trabalhar com dois aplicativos ao mesmo tempo. Em dois anos, já exerci, também, por três meses a função de taxista em busca de melhores valores, mais acabei retornando aos aplicativos.
Hoje, dirijo somente para a 99. Após um tempo de experiência, comecei a entender a diferença entre os aplicativos e as vantagens e desvantagens. Agora, me sinto parte de um projeto no aplicativo em que estou, me sinto valorizado. Por isso, nem penso em voltar ao meu trabalho antigo.
Ainda segundo o motorista, ser parceiro do app lhe deu qualidade de vida.
— Já consigo me organizar para trabalhar somente de segunda a sexta-feira. Nos finais de semana, me dedico ao meu filho — contou.
Com a rotina de trabalho, que otimizou seu tempo, a renda mensal é satisfatória:
— Trabalho hoje com média semanal de mil reais de lucro líquido. Desta forma, consigo ganhar R$ 4 mil mensais, fora as despesas com almoço e estacionamento, por exemplo — resumiu.
Complemente de renda ainda é comum
Além daqueles que já conseguiram fazer dos apps de transporte a única fonte de renda, existem ainda os que correm atrás para complementar os ganhos mensais. É o caso de Allan Alves, de 25 anos.
Durante o dia, ele trabalha com instalação de aparelhos de ar-condicionado, mas à noite, dirige pelo menos cinco horas por aplicativos.
— O salário mensal como técnico de refrigeração não é suficiente para manter minha família. Então, consigo complementar minha renda dirigindo por dois aplicativos. Quero, no futuro, poder exercer apenas uma função, pois é muito cansativo — contou o motorista.
Gerente-geral da Uber no Rio, Henrique Weaver diz que há dois grupos básicos de motoristas: aqueles cujo trabalho para aplicativos é integral e aqueles com dedicação parcial.
— Existem estudantes universitários que rodam para complementar a renda da família, mães e pais que passam o dia cuidando dos filhos e, quando o parceiro chega à noite, saem para trabalhar como Uber, e gente que só dirige nos fins de semana para aproveitar a demanda.
Outra parcela é a dos recém-aposentados que complementam a renda com o aplicativo e que buscam, além da renda, mais convivência com pessoas.
Disputa entre empresas
O Brasil é um mercado estratégico para as empresas de mobilidade urbana, já que a deficiência do transporte público abre muito espaço para os aplicativos. No caso da Uber, por exemplo, o país só perde em número de corridas para os Estados Unidos.
O Rio também é uma cidade importante, pois é a segunda maior praça nacional, atrás apenas de São Paulo. Os motoristas não são exclusivos e, em vários casos, trabalham em parceria com mais de um app, que disputam os melhores para garantirem atendimento mais rápido e mais receita.
Desde que foi comprada em janeiro pela plataforma de transporte chinesa DiDi Chuxing, a 99 se tornou mais agressiva nessa competição, e diminuiu a taxa que cobra dos condutores sobre cada corrida, de 12,99% para 7,99% (na capital) e para 4,99% (na Região Metropolitana do Rio).
— Houve um crescimento de 138% no número de motoristas cadastrados de janeiro a setembro, no Rio. Estamos ficando agressivos para ganhar mercado — afirmou a gerente de Operações no Rio, Vanessa Soki.
Para expandir o relacionamento com os profissionais, diz ela, a marca criou a Casa 99, em que motoristas resolvem eventuais problemas, podem descansar e recebem treinamentos.
— A partir de outubro, vamos lançar uma casa móvel para levar o atendimento a outras regiões, como Niterói e Baixada Fluminense.
Para valorizar e fidelizar os condutores, a Uber criou o clube seis estrelas, que oferece benefícios, como prêmios em dinheiro, para os mais bem avaliados pelos usuários.
Ainda neste ano, os profissionais passarão a ter 5% de desconto em combustíveis nos postos da Rede Ipiranga. Já um projeto-piloto que terá início em outubro, na Região Sul, vai garantir o financiamento da instalação do kit-gás. As parcelas de até R$ 100 serão descontadas diretamente do repasse semanal.
Cabify: 34% tem ensino superior
Na Cabify, um dos apps de transporte que atuam no Rio, os perfis dos motoristas são diversos, mas um detalhe chama a atenção. De acordo com um estudo feito pelo aplicativo, 34% dos parceiros têm curso superior completo, enquanto 28,8% têm o ensino superior incompleto, e 26,9%, ensino médio completo. Do total, 94% são homens e apenas 6%, mulheres.
— Há pessoas que têm empregos de meio período e rodam pela cidade nos momentos livres, há motoristas que dirigem apenas em momentos específicos do dia, e também aqueles que são unicamente parceiros, seja por dificuldade de encontrar emprego, para buscar flexibilidade de horário ou até por vocação — disse Luis Saicali, diretor de Operações Brasil da Cabify.
Via Extra
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