Meninos da Baixada Fluminense são selecionados para escola de balé Bolshoi - Baixada Viva Notícias

Meninos da Baixada Fluminense são selecionados para escola de balé Bolshoi

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Meninos da Baixada Fluminense são selecionados para escola de balé Bolshoi
Vinicius (à esq.) e Juan: de malas prontas para Foto: Agência O Globo

Nascidos e criados na Baixada Fluminense, Vinicius Pereira e Juan Santos nunca haviam se esbarrado, até que o balé os uniu. Eles foram os únicos meninos do estado do Rio a serem selecionados para a escola de dança Bolshoi, em Santa Catarina. 



Não foi fácil. Para serem aceitos pela única filial do mundo da famosa academia russa de balé, eles passaram por uma peneira que contou com 5.873 candidatos de todo o país.

Primeiro, foram realizadas as etapas regionais, em setembro. Depois, no mês passado, 820 crianças de 22 estados foram selecionadas para enfrentar outras três etapas na cidade catarinense de Joinville. 



Após diversas provas, que incluíram desafios de alongamento, ritmo, português e matemática, foram escolhidas 48 crianças. Sete delas são do Rio, sendo cinco para a dança clássica feminina e duas — Vinicius e Juan — para a dança clássica masculina.

— Decidimos inscrever ele para mostrar que existe um mundo lá fora. Nosso coração estava apertado, mas ele foi passando as etapas e nós fomos nos emocionando. Quando soubemos o resultado, choramos muito — conta Julia Fernandes, professora de Vinicius no Instituto Mundo Novo, em Mesquita.

Para Aldenize Moura, de 45 anos, professora de Juan na academia La Bayadère, em Nova Iguaçu, ficou a sensação de dever cumprido.



—Desde o dia que o Juan chegou eu percebi que ele tinha talento, que isso aqui seria pouco para ele. Eu tenho um jardim de rosas e me nasceu essa orquídea. Precisava colocar ele junto a outras orquídeas — diz.

Além do talento, Vinicius e Juan compartilham uma história de superação.

Em pé, a partir da esquerda: Sandra, Julia, Aldenize e Vânia. Abaixo, a partir da esquerda, os bailarinos Vinicius e Juan

Vinicius é nascido e criado na comunidade da Chatuba, em Mesquita, onde mora com dois irmãos, dois primos e a mãe. Sandra Elisa Pedro, de 39 anos, criou os filhos com o salário que ganhava como auxiliar de serviços gerais. Enquanto ela trabalhava, as crianças ficavam aos cuidados da avó. E foi a perda da avó que fez Vinicius conhecer a dança.



— Ele tinha 6 anos quando a avó morreu, e sentiu muito essa perda. Começou a ficar rebelde, então decidi inscrever ele no Instituto Mundo Novo. Lá ele começou a dançar e não parou mais — conta Sandra.

Na ONG, o menino também teve contato com teatro, jazz, danças urbanas e balé. Mas foi nesta última que ele mais se desenvolveu. Demonstrou tanto talento que suas professoras decidiram inscrevê-lo em festivais. 

Em agosto deste ano, ele foi eleito o bailarino revelação do Festival de Dança de Nova Iguaçu. A conquista o deixou confiante para disputar a vaga no Bolshoi.



Agora, a família enfrenta um novo desafio: se mudar para Joinville. Como a formação da escola de balé dura oito anos, eles vão iniciar uma nova vida na cidade.

— Graças ao instituto, estou em contato com uma família de lá que se ofereceu para nos acolher e me ajudar a arrumar um emprego — conta Sandra.

A história de Juan não é muito diferente. Ele mora no bairro da Viga, em Nova Iguaçu, com dois irmãos. Eles também foram criados apenas pela mãe. Vânia Lucia Ribeiro, de 36 anos, sustenta a família com o salário de gari da Comlurb. Ela também começou a perceber o talento do filho aos 6 anos.

— Só sei que não herdou nada de mim — diverte-se ela, antes de contar: — Ele gostava de assistir a vídeos de dança no Youtube e foi nessa idade que aprendeu a fazer espacate (movimento de abrir as pernas em um ângulo de 180°). Um dia, ele me pediu para entrar numa academia. Desde então, não parou mais.



Juan entrou para a academia La Bayadère há dois anos, onde começou a fazer balé clássico e jazz. Hoje, ele não tem dúvidas de qual caminho deseja seguir.

— Meu sonho é ser um grande bailarino do corpo de balé do Bolshoi — diz ele.
A fala do filho faz brilhar os olhos da orgulhosa mãe, que também se preprara para o desafio de se mudar com a família para Joinville. 

Abrir mão do cargo concursado na Comlurb não é a única preocupação. Os filhos, que estudam em escolas públicas, terão que ser matriculados na rede de Santa Catarina. Além disso, uma de suas filhas tem uma condição especial por sofrer deficiência intelectual.



— Acho que a adaptação dela vai ser mais difícil. Não só por mudar de ambiente, mas porque o clima lá é muito frio. Mas tenho certeza que vai dar tudo certo e logo vou conseguir um emprego. É um sacrifício que vai valer a pena. Se é o sonho dele, vamos atrás — diz ela.



Via G1


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