Prefeitura gastou quase R$ 70 mil em obra de cercamento da Fazenda São Bernardino Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo
Um ano após a Justiça conceder o registro de posse da Fazenda São Bernardino, em Tinguá, ao município deNova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a prefeitura cercou o local.
A obra para o cercamento da fazenda, realizado no fim do ano passado, custou R$ 69.514,69.
Desde então, a construção histórica, erguida em 1875 e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), está abandonada. O mato está muito alto, a placa que indica a localização, pichada, a exemplo da fachada da construção. Moradores e antigos frequentadores esperam uma resposta do poder público sobre quando o conjunto arquitetônico será, finalmente, restaurado.
— Criamos um movimento com cerca de 80 voluntários. Na fazenda, fazíamos varrição, capina e recolhíamos o lixo para depois ser levado.
Ano passado, quando estávamos organizando mais um evento, a Superintendência de Patrimônio Histórico e Cultural de Nova Iguaçu disse que não tínhamos autorização — conta o empresário Helder Ferreira, do grupo “Quem Ama Cuida”.
Ele conta que, na época da proibição, foi avisado pela prefeitura de que havia um projeto do município para a fazenda, mas não especificaram qual seria. Meses após a obrar para cerca o local, os portões foram, então, arrombados.
— Essa cerca dá uma sensação de abandono, não tem mais a movimentação de público de antes. Há pessoas entrando para furtar tijolos. O questionamento de moradores e amigos da fazenda é: O que vai ser feito? — indaga, perplexo, Hélder.
Aos 69 anos, a pensionista Maria José Lemos Accioly lembra das inúmeras festas infantis que frequentou na Fazenda São Bernardino, em Tinguá, Nova Iguaçu. Hoje, diante do abandono, ela torce para que as ruínas sejam restauradas.
— Vejo a fazenda desse jeito e sinto tristeza. Espero que façam algo, mesmo que seja para meus netos e bisnetos. Minha mãe morreu no ano passado, com 84 anos, e o sonho dela era ver a fazenda restaurada.
Filho de Maria, o estudante Vinny Accioly cresceu ouvindo a promessa da restauração da fazenda. Chegou a criar no Facebook o grupo “Fatos e Fotos”, onde conta a história de lugares abandonados da segunda cidade mais populosa da Baixada.
— É um absurdo ver um pedaço da história da cidade se degradando desse jeito — avalia.
Prefeitura afirma que está desenvolvendo projeto de revitalização
A prefeitura informou que a área da Fazenda São Bernardino foi cercada por exigência do Iphan, após o Executivo obter a posse definitiva do imóvel, em outubro de 2017, por decisão da 6ª Vara Cível de Nova Iguaçu.
O governo municipal explicou ainda que “a realização dos mutirões no local foi proibida, porque os voluntários capinavam o terreno, removendo o solo, o que não é permitido em áreas de sítios arqueológicos e históricos como a Fazenda São Bernardino’’.
A prefeitura afirmou que uma equipe da Emlurb faz a roçada da área a cada dois meses. Finalmente, o governo disse que está desenvolvendo um projeto de revitalização das ruínas, que será submetido à aprovação do Iphan.
O conjunto arquitetônico da Fazenda São Bernardino é composto por casa grande, senzala e engenho. A fazenda chegou a ser considerada uma das mais ricas da província do Rio de Janeiro.
Na década de 1980, um incêndio arruinou o que restava da propriedade, que já havia sido saqueada e também abandonada por seus últimos donos.
Via Extra
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