Estação do BRT desativada vira moradia de casal - Baixada Viva Notícias

Estação do BRT desativada vira moradia de casal

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Há quatro meses, a estação do BRT Prefeito Alim Pedro, do corredor Transoeste, é o lar do casal Carlos André de Campos Daniel, de 40 anos, e Bruna Rocha Alves dos Santos, de 22, que está grávida de três meses. Quando os dois chegaram ao local havia pelo menos outros três casais, que foram embora depois de uma briga que quase deu em morte. 

Desde então é o catador quem toma conta do pedaço, impedindo novas invasões. Ele contou que a prefeitura já ofereceu vaga em abrigo, mas como não era de casal, recusou. 




Um ano depois de fechadas, por conta da violência e das sucessivas depredações, o quadro é de abandono nesta e nas outras 21 estações do sistema que cobrem o trecho entre Campo Grande e Santa Cruz, pela Avenida Cesário de Melo.

— A única coisa que quero é um cantinho para viver com minha mulher e com essa criança que vai nascer. Quero sair da rua. 

Às vezes choro sozinho. Não tenho condições de pagar aluguel. É uma dívida que você dorme e acorda com ela — alega Carlos André, que foi parar na estação do BRT após ficar desempregado e não ter mais como bancar o aluguel de R$ 400 de uma casa em Inhoaíba.





Como catador ele tira cerca de R$ 200, por mês. O casal usa pedaços de madeira e cobertores para fechar o espaço onde ficava a porta de vidro. Um pedaço de espuma jogado num canto da estação serve de colchão. 

Os dois não desgrudam dos documentos, objetos de higiene pessoal e um aparelho de telefone celular, que levam para onde vão, com medo de serem roubados. 




A parada do BRT que serve de moradia para eles fica a menos de 50 metros da 35ªDP (Campo Grande). Mesmo assim, Carlos André diz que passa as noites em claro por medo de acontecer algo com ele ou com a mulher grávida.

Sem ônibus, vans fazem a festa Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo



A maioria das estações desse trecho está depredada. A Cesarão 3 e Vila Paciência, alvos de sucessivas depredações de vandalismos são as que estão em pior estado. Com a ausência dos articulados, a calha exclusiva do BRT está sem uso. 

Enquanto isso, os moradores que utilizam o transporte público na região alegam estarem à mercê das vans, que se transformaram na principal opção de locomoção. A população conta apenas com a linha 17, de ônibus (Campo Grande-Santa Cruz), que deveria ser temporária, mas acabou se perpetuando, já que os articulados não voltaram. 



Ela é considerada insuficiente para atender a demanda que, segundo dados do próprio BRT é de 30 mil passageiros por dia.

A intervenção no BRT, iniciada no começo do ano, informou que está diagnosticando os problemas do sistema e apresentará à Prefeitura uma proposta de edital para nova licitação, abrindo o serviço a investidores de fora do sistema, com capacidade para melhorá-lo. 

O edital deve prever não só a oferta de veículos em número suficiente para a operação, mas também a reabertura de estações fechadas na Cesário de Melo, a segurança em estações e ônibus e a reconstrução da pista Transoeste, segundo a intervenção, que não fala em prazos. 




Enquanto isso, os usuários se dividem entre os que querem a volta do BRT e os que preferem as linhas antigas, que foram desativadas ou encurtadas com a implantação do sistema, como 870 (Bangu-Sepetiba), 871 (Praia da Brisa — Campo Grande) e 858 (Campo Grande — São Fernando).

— Prefiro a volta das linhas antigas. Se isso acontecer vai encurtar o tempo de espera nos pontos que hoje é de até 30 minutos, porque temos apenas a linha 17 com poucos ônibus e do jeito que está não atende os passageiros. 

A outra opção é a linha intermunicipal 873P (Itaguaí— Campo Grande, via Cesário de Melo) mas a demora ainda é maior, chegando a uma hora. Sem opção as pessoas correm para as vans, que tem uma frequência três vezes maior do que o ônibus — afirma o auxiliar de entregas, Rafael Monteiro, de 26 anos, morador no Cesarão.



O casal Carlos Alexandre Cunha da Silva Carneiro, de 25, e Eliana Alves, de 39, também do Cesarão, defende a volta do BRT, por considerar mais rápido que os ônibus comuns, por circular em pista exclusiva. 

O porteiro Miguel Pereira, de 47, também quer o retorno dos articulados. Atualmente para chegar ao trabalho na Barra da Tijuca, ele pedala cerca de um quilômetro até a estação Santa Veridiana e de lá segue de BRT.



— Só contamos com o 17 e as vans. O BRT faz falta. Fomos piloto, porque foi aqui na Zona Oeste que o sistema começou e infelizmente nesse trecho parou. É muito dinheiro nosso jogado fora — reclama o morador.

Cesarão 3 está toda destruída Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Os problemas do BRT não se limitam à ausência dos articulados e ao abandono das estações no trecho da Cesário de Melo. Numa vistoria feita nesta segunda-feira, em cinco estações que estão funcionando, o Procon encontrou diversas irregularidades, como superlotação, falhas na acessibilidade, má conservação dos veículos e ausência de funcionários no local para orientar e coibir abusos. 




A operação batizada de Lata de Sardinha foi motivada pelas 131 denúncias e reclamações encaminhadas por passageiros ao órgão desde o começo do ano.

Nos terminais Alvorada, Mato Alto e Jardim Oceânico, do Transoeste, os fiscais flagraram ônibus saindo da estação com as portas abertas devido à superlotação. 

Ainda no Alvorada, o piso tátil (com relevo para orientação) direcionava o deficiente visual até quiosques que foram construídos sobre o piso, e não para os locais que deviam, comprometendo a locomoção dele pela plataforma. Já na Estação Mercadão—Madureira, do Transcarioca não havia piso tátil.




Na Estação Mato Alto, os fiscais constataram que a plataforma oferecia risco ao usuário, já que as portas de embarque estavam com vidros rachados e em algumas sequer tinham vidros. 

Além disso, a fiscalização flagrou fiação exposta, guarda corpo quebrado e com superfície pontiaguda. Na Maneceia—Madureira, também do Transcarioca, o problema era a superlotação. O Procon iinformou que notificará o BRT por má prestação do serviço.

A situação do BRT foi discutid nesta terça-feira na Câmara Municipal, durante reunião da comissão especial de acompanhamento da intervenção, presidida pelo vereador Átila Nunes. 




O encontro durou cerca de três horas e contou com a participação ex-diretora de relações institucionais do BRT, Susy Ballousier, da diretora do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento, Clarisse Linke e do advogado Mateus Peixoto Terra, especialista em direito administrativo.

— É real a possibilidade de interrupção do serviço e o prejuízo seria inimaginável. Fechando o BRT você vai ter um custo de infraestrutura que se torna impagável. São 135 estações e terminais, então na hora que elas ficarem vazias vai ter gente entrando, roubando monitor, catraca, fiação, led, tudo. 

O custo social se o sistema parar será impagável — alerta Susy que também demonstrou preocupação sobre a operação da Transbrasil, ainda em fase de obras:




— Hoje as empresas já operam no vermelho. São essas empresas que estão falindo que vão administrar o corredor Transbrasil? Por enquanto, só vemos discussão sobre a continuidade das obras, mas ninguém demonstra preocupação sobre quem irá operá-lo — questiona.

O vereador Átila Nunes, presidente da Comissã, reclamou do que chamou de “falta de transparência no processo de intervenção”.

— Não sabemos o que acontece dentro da intervenção e o que exatamente está sendo gerido por eles. Falta transparência.


O próximo passo da comissão será a realização de diligências e o convite para que os representantes do consórcio esclareçam alguns pontos sobre o termo de adesão que permitiu a operação do sistema BRT pelas empresas que já detinham a concessão do transporte no município.

Veja, na íntegra, a nota da intervenção sobre esses problemas:



“A intervenção no BRT está diagnosticando os problemas do sistema e apresentará à Prefeitura uma proposta de edital para nova licitação, abrindo o serviço a investidores de fora do sistema, com capacidade para melhorá-lo. 

O edital deve prever não só a oferta de veículos em número suficiente para a operação, mas também a reabertura de estações fechadas na Cesário de Melo, a segurança em estações e ônibus e a reconstrução da pista Transoeste.

A Secretaria Municipal de Transportes informa que nos dias da semana a linha 17 opera na faixa de horário compreendida entre 04h e 00h com 17 carros e intervalos médios de partida de 7 (sete) minutos. 



Já na faixa de horário compreendida entre 00h e 04h, a linha opera com 2 (dois) carros e intervalos de saída de 30 minutos. Nos sábados, o intervalo é de 8 minutos e nos domingos e feriados de 12 minutos.

No corredor da Cesário de Melo, eram transportados 30.700 passageiros por dia, porém os calotes representavam 57% dos passageiros (17mil/dia), e havia 5,300 de gratuidade. Pagantes eram apenas 8 mil. A Linha 17 transporta cerca de 7 mil pessoas diariamente. Parte dos passageiros optou por outras linhas alimentadoras do sistema BRT, desembarcando principalmente em Mato Alto e Magarça.




Sobre a reativação de antigas linhas, a Intervenção no BRT não tem essa atribuição. Sugerimos ouvir a Secretaria Municipal de Transporte.

A Intervenção no BRT informa que a frota conta hoje com 357 veículos articulados, sendo que 238 estão em circulação. A frota não é dividida por corredores porque os veículos podem ser remanejados entre os serviços de acordo com a necessidade.

Sobre a superlotação e o estado de conservação dos veículos: a intervenção no Consórcio BRT vem solicitando junto às empresas o aumento da frota, cumprindo as determinações do Poder Concedente, e o apoio da SMTR na fiscalização e penalização das empresas que não cumprem. A SMTR tem feito este trabalho. 




Em prazo mais longo, para sanar os problemas, a proposta da intervenção à Prefeitura é licitar o sistema BRT para abrir espaço a empresas em condições de cumprir as exigências para uma boa operação do sistema.

Sobre as demais questões das estações, recebemos ontem as informações do Procon e vamos providenciar as respostas.”



Via Extra

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