O valor de R$ 24 mil pagaria dois anos de colégio para os filhos do taxista Alexandre Santos Oliveira Foto: Pedro Teixeira
O “desabafo” do procurador do Ministério Público de Minas Gerais Leonardo Azeredo dos Santos reclamando do “miserê” de viver com salário mensal líquido de R$ 24 mil ganhou as ruas do Rio gerando indignação e piada.
Enquanto o funcionário público se queixa de ter que reduzir seu padrão de vida, num áudio revelado pela Rádio Itatiaia, o taxista Alexandre Santos Oliveira, de 41 anos, calcula que somente um mês de salário do procurador seria suficiente para pagar dois anos de mensalidade do colégio de dois de seus três filhos.
Para ele, miserê mesmo é economizar no lanche da tarde, aproveitando a promoção do pastel com suco por R$ 6,50:
— Se encontrasse esse procurador, eu o levaria para o Complexo do Alemão, aqui na Zona Norte do Rio, para ele ver o que é pobreza de verdade, ver como as pessoas vivem em barracos. Eu que ando na praça, vejo como sou rico e tenho uma vida próspera mesmo sem os vencimentos deste cidadão — alfineta Alexandre.
O valor de R$ 24 mil pagaria dois anos de colégio para os filhos do taxista Alexandre Santos Oliveira Foto: Pedro Teixeira
Empurrando um carrinho com isopor carregado de água mineral, o ambulante Silas Monteiro, de 42 anos, acredita que nem em 5 anos de trabalho conseguiria ganhar o salário mensal do procurador. Para ele, miserê mesmo é contar os centavos para pagar as contas de água e luz de sua casa.
— Eu que vivo no miserê. Esse dinheiro ia mudar minha vida. Ele (o procurador) tinha que tomar vergonha na cara — adverte Silas, enquanto vende uma garrafinha a R$ 2, nas ruas da Saara, no Centro da cidade.
Silas Monteiro conta moedas para pagar conta de água e luz Foto: Pedro Teixeira
Com um salário de R$ 24 mil, os procuradores de Minas Gerais ganham mais do que 99% dos trabalhadores assalariados brasileiros, segundo dados da última Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD) contínua realizada no ano de 2017 pelo IBGE.
Após a repercussão negativa de suas declarações, o procurador Leonardo Azevedo pediu afastamento das funções, ontem.
Rendimento médio é de R$ 1.271
Durante sua infância no interior do Ceará, a coordenadora de cozinha Jacinta Feitosa, de 49 anos, aprendeu dar valor ao prato de comida na mesa da família. Hoje, ela luta para oferecer educação de qualidade às filhas e realizar o sonho da caçula Carina, de 20 anos, de cursar Medicina.
— Ele precisa pensar no que diz. As pessoas passam fome e agradecem quando têm o que comer. Muita gente está sem trabalho — lembra Jacinta.
A coordenadora de cozinha Jacinta Feitosa, de 49 anos, aprendeu dar valor ao prato de comida na mesa da família Foto: Pedro Teixeira
O valor do salário do procurador é 36 vezes maior do que o rendimento médio de metade da população de menor renda e que recebe até R$ 754 por mês, segundo o IBGE. O rendimento médio do brasileiro é de R$ 1.271.
Para o camelô Alexandre da Conceição, de 40 anos, os R$ 24 mil poderiam ser usados para comprar comida para a família durante quatro anos.
— Miserê é ficar sem trabalhar. É um absurdo tão grande que nem sei o que dizer para um sujeito desses.
O salário do procurador compraria comida por quatro anos para Alexandre da Conceição Foto: Pedro Teixeira
No bolso
Cesta básica
O salário líquido do procurador seria suficiente para comprar uma cesta básica, que no Rio custa R$ 496,33, para 48 famílias.
Proteína
Com R$ 24 mil, seria possível comprar pelo menos dois mil quilos de carne de segunda.
Viagem
Seria suficiente para comprar 13 passagens de ida e volta São Paulo- Rio.
Via Extra
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