No Hospital de Campanha do Maracanã, uma médica pediu demissão por causa da falta de infraestrutura para trabalhar no local.
Era o primeiro dia de plantão da anestesista Priscila Eisembert.
Ela denuncia que faltam medicamentos e exames para os pacientes.
“Tem muito profissional querendo trabalhar (...) mas infelizmente não dá pra ter estômago pra ver essa atrocidade.
O médico, infelizmente, não faz milagre. Ele precisa ter o mínimo pra trabalhar. Aquilo é um CTI de fachada. Não tem nem o mínimo de um CTI”.
A unidade ganhou uma segunda ala nesta sexta-feira (22) em meio a denúncias de falta de medicamentos.
“Conforme as intercorrências foram acontecendo e eu fui examinando individualmente cada paciente e Cada medicação que eu precisava fazer eu fui descobrindo que não tinha.
Eu tive problemas com todos os pacientes. Um dos casos foi um paciente que recebi por Covid com arritmia cardíaca importante, com a frequência cardíaca de 160, e eu precisava baixar a frequência e não tinha medicação”.
Os sedativos são medicamentos fundamentais para quem está recebendo tratamento. Mas, segundo a médica, não parecem ter sido prioridade para o hospital.
“Não tinha midezolan e fentamil. São sedativos. O paciente precisa tá acoplado à ventilação mecânica e eles precisam estar bem sedados. Se não a gente não consegue usar o ventilador.
Se não estiver sedado, além de ele brigar com o ventilador, a gente não consegue botar os parâmetros ideais no ventilador.
E em termos emocionais também é muito ruim porque o paciente acaba tendo consciência. (...) E a gente não tinha nenhum betabloqueador, que a medicação que eu precisava fazer pra ele".
Durante o plantão, a médica disse que viu duas pessoas com Covid-19 morrerem. Pra ela, a falta do básico pode ter custado a vida delas. Em um dos casos não havia o medicamento certo. No outro, a paciente não passou pelos exames necessários.
“Foi um paciente jovem, que eu precisei mudar o tubo dele, que tava furado. O tubo que fica da boca pra traqueia que fica acoplado ao ventilador mecânico, que faz ele respirar.
E a parte que veda tava furada. Isso acontece e eu tive que trocar. E não tinha relaxante muscular.
A sociedade de anestésio, a sociedade de medicina, deixam claríssimo que a gente tem que entubar o paciente com relaxamento muscular (...). Eu demorei um pouco mais porque tava muito difícil a entubação dele e ele acabou parando. Veio a óbito”.
A outra vítima era de uma jovem de 22 anos. A paciente estava sob cuidados de outro médico, mas a mobilização dentro do hospital foi tão grande que Priscila foi ajudar.
"A gente tava há 2 dias sem nenhum exame laboratorial no sistema. Cheguei a ligar para o laboratório e me foi informado que iriam corrigir e que não podiam imprimir e trazer no setor pra mim.
Ela não tinha autorização também pra passar via telefone. Pacientes do CTI precisam ter rotina laboratorial diária. E esses pacientes do hospital de campanha estavam há mais de 2 dias sem nenhum exame de sangue. Não tinha também fita pra testar o diabete".
A médica trabalha no Sistema Único de Saúde há 10 anos.
Está acostumada a lidar com estruturas precárias e ter que improvisar.
Mas dessa vez, o cenário que encontrou foi ainda pior.
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